Nela constam os nomes do ex-prefeito, de sua mulher, de dois filhos e do presidente da Câmara Municipal
Ricardo Brandt, ROSANA
Nas apreensões da Operação Mexilhão Dourado, que levou à cadeia o ex-prefeito e seis dos nove vereadores da cidade de Rosana, no extremo oeste do Estado, foi encontrada uma agenda na casa de um dos acusados que, para a Polícia Civil e o Ministério Público, confirma a existência de um mensalinho envolvendo não só o Legislativo, mas também o Executivo e a família do ex-prefeito. O mensalinho era abastecido, indiretamente, por recursos da Cesp.Como no mensalão denunciado no Congresso, parlamentares recebiam pagamentos mensais de empresários. "Tinha vereador que recebia R$ 5 mil e o presidente da Câmara, R$ 20 mil por mês", afirmou o delegado Everson Contelli. Os pagamentos eram feitos para que ignorassem irregularidades em contratos com a prefeitura e para montar uma fábrica de cassações por encomenda. "Quem quisesse atrapalhar a quadrilha era cassado", disse o promotor Marcelo Cresti. "Criou-se um tribunal inquisitivo de cassações", disse Cotelli.As investigações apuraram que a abertura de uma Comissão Processante na Câmara para cassar mandato custava R$ 120 mil. Três vereadores e o próprio prefeito foram cassados nesse mandato (2004-2008). Apurações indicaram que as propinas eram pagas também ao ex-prefeito Jurandir Pinheiro para que o grupo fraudasse licitações, superfaturasse contratos, recebesse por obras fantasmas, loteasse cargos públicos e mantivesse a administração municipal nas mãos de empresários. Sua cassação teria sido orquestrada pelo grupo porque o porcentual exigido por ele nos acordos, 20%, estava alto.O material apreendido faz parte da lista de provas que subsidia a denúncia criminal que acaba de ser apresentada à Justiça sobre o caso. São cheques em branco da prefeitura em mãos de um empresário, registros contábeis, notas frias, registros de empresas fantasmas e de laranjas. Polícia e promotoria acreditam que essas peças compunham uma estrutura organizada que serviu para tomar dos cofres públicos cerca de R$ 58 milhões desde 2005. O principal acusado é o dono da prestadora de serviços de limpeza da cidade, a Presserv, Rogério de Souza Phelippe, que está foragido. Seu advogado não foi encontrado.A agenda com anotações do suposto mensalinho faz parte do inquérito que correu sob sigilo, mas ao qual o Estado teve acesso. Ela foi encontrada na casa de Amador Almeida Martins, gerente do Banco Santander e braço financeiro da quadrilha que está foragido. É uma agenda com os nomes do ex-prefeito (cassado em agosto), de sua mulher, Fidelcina Barbosa (a Cininha), de dois filhos do casal e do presidente da Câmara Municipal, Valdemir Santana dos Santos, conhecido como Demi, valores e datas.Cidade mais distante da capital (762 quilômetros), Rosana parece ter ficado longe dos olhos dos órgãos de fiscalização. A corrupção atingia desde a simples compra de produtos de limpeza até grandes obras. Com 23 mil habitantes e precisando de um hospital para substituir o atual, que tem paredes de madeira, o projeto saiu, mas a obra parou.Dinheiro em caixa havia, e muito. O orçamento local para 2008, por exemplo, é de R$ 58 milhões. A defesa de Pinheiro e dos demais acusados nega que eles participavam de qualquer tipo de fraude. Eles se queixaram também de que não tiveram acesso ao teor das acusações contra seus clientes.
Fonte Estadão
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20071217/not_imp97129,0.php
Nenhum comentário:
Postar um comentário